Quinta-feira, 31.10.13

Portas e Passos: alguém percebe alguma coisa do que eles querem?

Nos últimos dias, temos assistido a um verdadeiro espectáculo de comunicação política!

Num dia, Paulo Portas declara, com pompa, que o Estado deve ser reformado!

Os impostos, o IRS, por exemplo, deverá descer, e para isso será nomeada uma comissão, para propor medidas para 2015, se isso for possível, é claro.

A segurança social, deverá ter plafonds, coisas fofinhas onde todos teremos a reforma garantida, e menos contribuições para pagar.

Os funcionários públicos, esses deverão ou ser despedidos, ou então ser aumentados, quando forem génios de qualidade.

A despesa geral do Estado, onde for possível, deverá diminuir, mas a qualidade dos serviços deverá aumentar, com mais investimento.

Por fim, escolas e hospitais e muitos serviços que tenham qualidade, poderão ser privatizados, ou dados em concessão.

Atenção, tudo isto se passará no futuro, num local mítico e fantástico, onde o "milagre económico" que já existe na cabeça do Dr. Pires de Lima nos conduzirá em breve.

Em que ano será esse futuro, perguntam os portugueses?

Bem, ninguém sabe. O Dr. Paulo Portas acredita que será no ano 2%, um ano qualquer daqui para a frente, em que a economia cresça 2%.

Ou seja, o nosso maravilhoso futuro colectivo depende do crescimento económico.

E o crescimento económico depende de quê? Isso o Dr. Paulo Portas não sabe, ou não diz.

Porém, no dia seguinte, o Dr. Passos Coelho apresenta o orçamento, e diz que, no presente, as coisas são diferentes do futuro do Dr. Paulo Portas.

No presente, haverá o oposto do que haverá no El Dorado do futuro.

No presente, alguns impostos sobem, o IRS não mexe, as pensões descem, os salários dos funcionários públicos levam fortes cortes, e não há qualquer plafond fofinho onde assentar as nossas reformas. 

Ah, e no presente, já me esquecia, é possível que muitos dos funcionários públicos que no futuro seriam considerados génios e aumentados pelo Dr. Portas, sejam no presente, ou no próximo ano, despedidos ou convidados a sair pelo Dr. Passos.

É este o país que nós temos, um país onde os economistas que têm dúvidas são "masoquistas", nas palavras do Dr. Cavaco; onde há um "milagre económico" a acontecer à frente dos nossos olhos, nas palavras do Dr. Pires de Lima, e onde o Dr. Portas vive num futuro radioso, e o Dr. Passos obriga milhões a apertar ainda mais o cinto, para que ele não falhe, o que como se sabe, é o mesmo que o país falhar.

A mim, estas coisas lembram-me o que o Obelix sempre comentava: "estes romanos são doidos!"

E depois ainda dizem que era o Eng. Sócrates que andava sempre a confabular e a tentar iludir-nos com as suas verdades...

publicado por Domingos Amaral às 15:18 | link do post | comentar | ver comentários (1)

I love Nespresso

Foi uma das melhores invenções dos últimos anos, em todo o mundo.

A Nespresso chegou a Portugal faz agora dez anos, e de então para cá tem crescido sempre, dando aos consumidores portugueses uma opção nova que antes não tinham.

Além dos sabores variados dos seus cafés, para mim a maior vantagem da Nespresso é a rapidez com que se consegue beber um café naquelas máquinas.

Eu ainda sou do tempo do café em balão, ou do saco de café, ou ainda daquelas máquinas que se aqueciam no fogão. 

Todas elas, sem excepção, obrigavam-nos a esperar muitos minutos.

Não quer dizer que, por exemplo o balão não seja excelente, é.

Mas, esperar vinte minutos por um café é quase impensável nos dias de hoje. 

É essa enorme vantagem da Nespresso. 

Contudo, além de rápidos, é importante reconhecer que os cafés são mesmo bons, e que os sabores são muito variados.

Ontem, na loja do Chiado, fui convidado a assistir a uma explicação de como são feitos os cafés Nespresso, e fiquei fascinado.

O alemão Karsten Ranitzsch, Head of Coffee da Nespresso, esteve a descrever como se escolhem os cafés da marca, e quais as relações que ela tem estabelecido com os produtores de todo o mundo, desde a Colômbia ao Brasil, desde África à Ásia.

São mais de 45 mil agricultores, de vários continentes, que colaboram com a Nespresso, e que permitem que a marca ande no topo da qualidade.

Em Portugal, há agora o lançamento de mais dois cafés, ambos fortes.

O primeiro é o Kazaar, muito forte, parecido com o café que se bebe nas pastelarias portuguesas, e que teve muito boa aceitação por cá nas edições especiais, feitas no passado recente.

O segundo é o Dharkan, também forte mas um pouco mais suave, um pouco mais cremoso.

Vale a pena experimentar os dois, fiquei freguês.

publicado por Domingos Amaral às 15:01 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Terça-feira, 29.10.13

O muito original "milagre económico" de Pires de Lima

O senhor ministro da Economia, Pires de Lima, disse hoje que Portugal está a viver um verdadeiro "milagre económico".

É verdade, juro que é, vejam as declarações que ele fez e verão que não estou a mentir.

O que me preocupa é esta estranha dissonância entre a realidade do que vai acontecendo e o discurso de Pires de Lima.

Será que não é um pouco, vamos lá, excessivo, considerar que uns pontinhos décimais de crescimento do PIB são um "milagre económico"?

Será que o ministro não está a exagerar?

Antigamente, nos tempos em que a economia era uma ciência, e não uma questão de fé religiosa, só se podia considerar um "milagre económico" uma década de alto crescimento do PIB.

Um milagre económico era a Alemanha, nos anos 50 e 60, que cresceu brutalmente e se levantou da ruína em que Hitler a deixara.

Um milagre económico era o Japão, que teve vinte anos de fantástico crescimento industrial, e se transformou num dos países mais ricos e poderosos do mundo, recuperando do descalabro depois da guerra.

Um milagre económico era a Coreia do Sul, que depois da guerra da Coreia, em que se separou da parte Norte, se transformou numa sociedade poderosa e livre, que gerou altos crescimentos económicos.

Um milagre económico era, por exemplo, o equilíbrio de certos países nórdicos, que apesar de terem um Estado muito forte, com elevada despesa social, conseguiam apresentar forte crescimento e uma distribuição de riqueza e um nível de vida ímpares.

Sim, no tempo em que eu estudei, eram esses os exemplos de "milagres económicos".

Mas, pelos vistos, nos dias que correm qualquer 0,5% de crescimento num trimestre, já é considerado um "milagre económico".

Há um trimestre ou dois menos maus e logo um ministro grita: é milagre, é milagre!

É evidente que isto cria uma certa perplexidade nos portugueses

A mim, Pires de Lima lembrou-me um pouco aqueles profetistas meio tontos, de certa idade, que estão no Rossio com cartazes sobre a religião, Deus e o apocalipse que pode vir...

Mas, nós já nos habituámos a tudo!

Já nem nos faz impressão que um ministro diga que estamos a viver um "milagre económico" quando o orçamento corta brutalmente salários, corta pensões até às viúvas, sobe impostos por todo o lado, e coisas assim.

E ninguém estranha que para o ministro seja perfeitamente possível estar ao mesmo tempo a acontecer um "milagre económico" e o país ter de suportar uma carga fiscal altíssima, um desemprego enorme, uma recessão grave, e um orçamento carregado de toneladas de austeridade!

É, de facto, um "milagre económico" muito especial, muito original, muito português...

Não duvidem: o milagre de Pires de Lima vai certamente entrar para a história de económica do planeta, e em breve será ensinado nas universidades de Harvard e Oxford!

publicado por Domingos Amaral às 18:19 | link do post | comentar
Segunda-feira, 28.10.13

Évora, o Convento do Espinheiro e o restaurante Malagueta

Já há uns tempos que não passava uns dias em Évora, e este fim de semana tive a possibilidade de regressar, e passei por lá dois dias bem agradáveis.

Évora é uma das cidades portuguesas mais bonitas e mais bem organizadas.

É evidente que as muralhas que cercam a cidade ajudam, pois estabelecem um limite físico que obriga a modernidade a respeitá-las, mas é das cidades portuguesas uma das que resistiu melhor à chamada "pressão urbanística".

Mesmo fora das muralhas não se vêem abortos urbanísticos graves, tão comuns noutras cidades, horríveis prédios que as descaracterizam e tornam mais feias.

Em Évora, há muitos anos que se evita isso, e o resultado é excelente.

A circular exterior, rodoviária, facilita a circulação, e permite ter uma visão geral da cidade, o que é agradável.

Depois, só entramos nas muralhas onde é possível, e não onde queremos, o que organiza o trânsito e obriga os visitantes a passar por muitos locais que vale a pena ver, como os monumentos ou as praças.

Quanto a restaurantes, fiquei freguês, sobretudo do Malagueta, onde o simpático dono nos recebeu muito bem, em especial numa noite de sábado onde vários outros restaurantes estavam fechados, uma anomalia que ninguém conseguiu explicar facilmente.

Quanto aos hotéis, há muitos e variados, mas como tinhamos uma oferta, ficámos no muito bonito Convento do Espinheiro, um excelente exemplo de como pode o restauro de um edifício religioso transformar-se num belo hotel, com uma parte antiga nobre e digna, e uma parte moderna luxuosa mas discreta, e muito bem integrada no conjunto.

Sim, é caro, mas o serviço é excelente, e as massagens muito boas.

Valeu bem o descanso, e fiquei ainda mais seduzido pela cidade!

 

publicado por Domingos Amaral às 18:24 | link do post | comentar
Sexta-feira, 25.10.13

O mistério da importância de Sócrates

Para mim, é um mistério.

Não consigo perceber porque é que ainda se dá tanta importância a José Sócrates.

Porque é que os comentadores se preocupam com o que ele diz, agora que ele é mais um comentador entre tantos.

Porque é que certos jornais continuam a fazer enormes títulos sobre os supostos "casos" da vida dele.

Porque é que o primeiro-ministro se vê obrigado a desmentir uma coisa que ele disse.

Porque é que outros políticos falam dele.

Porque é que tanta gente lhe continua a destilar ódio.

Porque é que pessoas sensatas, como Eduardo Catroga, continuam a dizer que ele devia ser "julgado".

Não consigo perceber.

Sócrates é talvez o político português que desperta mais ódios, mas já não me parece que desperte grandes paixões.

Porque é que dão tanta importância ao que ele diz?

Pela minha parte, nunca acreditei que ele fosse a única razão de todos os nossos males, e o que ele diz já pouco me interessa.

É apenas mais um "talking head" a esforçar-se para ser ouvido.

Neste mundo extremanente competitivo pela atenção, há cada vez mais palavrões, insultos, barbaridades e excessos ditos, quase todos os dias, na televisão ou nos jornais.

Por mera higiene mental, evito dar grande importância a essa avalanche de palavreado de pessoas que estão todas cheias de razão.

Portanto, não lhe ligo grande coisa.

Nem a ele, nem aos outros.

São apenas cabeças falantes que não mandam nada...

publicado por Domingos Amaral às 15:51 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Quinta-feira, 24.10.13

Portugal e a recessão em W

Os economistas gostam muito de usar as letras do abecedário para classificar as recessões.

Há a recessão em V, com uma queda que é muito profunda, uma estadia curta no fundo, e uma recuperação tão rápida como a queda.

Há a recessão em L, onde há uma queda inicial muito profunda, e depois não há qualquer tipo de recuperação, apenas um prolongamento do fundo.

E depois há a recessão em W, que são duas recessões, dois V seguidos, onde por vezes a zona central do W é menos cavada.

Nesse caso, há uma primeira queda violenta, descendo pelo primeiro V, depois chegamos a uma zona de recuperação, que é mais pequena que a descida.

De seguida, a meio do W, há uma segunda descida para o fundo, que pode ser menos forte que a primeira

Só depois se volta a recuperar fortemente, subindo pelo segundo V acima.

Será isso que irá acontecer em Portugal, uma recessão em W?

Olhando para o que foram os dois últimos anos, podemos admitir que em 2012, com um corte na despesa pública, os efeitos recessivos foram fortes, e caímos pelo primeiro V abaixo.

Depois, em 2013, houve o aumento enorme de impostos, mas a recessão foi bem menos forte.

Não sendo ainda uma subida, foi uma melhoria ligeira, uma subidinha a meio do W.

Contudo, para 2014, o orçamento prevê brutais cortes na despesa e por isso arriscamo-nos a nova recessão.

É muito possível uma nova queda, embora menos grave que a primeira, e que vamos parar a um ponto recessivo semelhante ao acontecido em 2012.

Segue-se depois um crescimento rápido, subindo o segundo V depressa?

É cedo para fazer esse tipo de previsões.

Como diz toda a gente, incluindo Passos Coelho, há muitos "riscos".

Mais do que riscos, ou além deles, há um evidente dilema português.

O que é melhor: tentar corrigir o déficit do Estado, aumentando a recessão?

Ou tentar evitar a recessão, deixando o déficit ser maior do que a troika pede?

Eu pela minha parte, prefiro a segunda opção; mas a Europa e o Governo, é evidente, preferem a primeira.

publicado por Domingos Amaral às 16:34 | link do post | comentar | ver comentários (2)
Terça-feira, 22.10.13

Europa: União ou Morte?

Há cada vez mais gente, por essa Europa fora, a lutar e a defender que o euro e a Europa são as causas de todos os nossos males.

Em França, cresce a extrema-direita, que abomina o euro. Na Grécia, a mesma coisa, bem como na Áustria.

Na Alemanha, o partido anti-euro não entrou no parlamento, mas a corrente é forte, em especial à direita.

Em Portugal é ao contrário: como é a esquerda que está fora do poder, é à esquerda que se ouvem as vozes mais hostis ao euro e à Europa.

Jerónimo de Sousa disse há dias que temos de abandonar o euro.

Daniel Oliveira também culpa a Europa pela resposta à crise financeira de 2008, que está a destruir as democracias nacionais.

O ataque ao euro é muitas vezes também um ataque à Alemanha, país mais forte e poderoso, e que liderou a Europa nos últimos anos.

Sem uma visão europeia clara, sempre relutante, a Sra Merkel não foi a líder de que a Europa precisava, e decidiu quase sempre tarde demais. 

Mas, será que o fim do euro e da Europa é a melhor solução para as democracias europeias?

Eu nunca fui um grande entusiasta do euro, desde há mais de 15 anos que acho que está mal pensado, e que dificilmente ia funcionar bem.

Para que o euro fosse uma união monetária completa, era necessário uma união política a suportá-lo.

Eram necessários, desde o início, uns Estados Unidos da Europa, que elegessem um presidente de todos os europeus, por voto directo e universal.

Era necessário um governo europeu, um Orçamento europeu, um Tesouro europeu.

Era necessária uma dívida europeia, a mutualização; bem como uma segurança social europeia.

Era necessária uma união bancária, com supervisão europeia, e um Banco Central Europeu capaz de intervir sempre que fosse necessário, como fazem o inglês, o japonês e o americano.

Nada disso foi feito quando devia ter sido feito, há vinte ou quinze anos.

O euro fez-se sem esses poderes, e resultou mal.

Não havendo um sólido poder político e económico europeu que sustentasse o euro, os erros multiplicaram-se.

Cada um fez o que lhe apeteceu, e quando o conjunto ficou em risco, só se procuraram soluções nacionais, e não europeias.

Na realidade, há um drama europeu complicado.

Os 17 países do euro já não são bem países soberanos, mas também ainda não são Estados de uma União.

São seres híbridos, a meio caminho entre uma coisa e outra, e por isso confundidos.

Sempre me pareceu, e escrevi-o muitas vezes, que Portugal teria feito melhor em ficar de fora.

Porém, isso não aconteceu, e perante a realidade atual a melhor solução não é a desintegração ou saída unilateral do euro.

O melhor, para todos, da Grécia à Alemanha passando por Portugal, era uma União verdadeira, cada vez mais sólida e forte.

A Europa precisa de se unir cada vez mais, pois só assim estabiliza.

Ou há união, ou há morte.

Ficar no limbo em que estamos não é nada. 

A senhora Merkel disse ontem que temos de avançar para uma união mais sólida, e todos têm de perder soberania.

Pena que só o diga agora, e que seja tão lenta a dar cada passo.

A andar tão depressa como um caracol, a Europa corre o risco de ser odiada e culpada por tudo e por todos, e de morrer aos bocados...

publicado por Domingos Amaral às 09:50 | link do post | comentar | ver comentários (7)
Segunda-feira, 21.10.13

Uma voz, uma descoberta: Jackie Evancho

De vez em quanto, sou surpreendido por um fenómeno, e tenho a sensação que ando distraído.

Desta vez foi uma rapariga americana, de Pittsburgh, de que eu nunca tinha ouvido falar.

Chama-se Jackie Evancho, e é um verdadeiro fenómeno, uma voz maravilhosa, extraordinária para alguém da sua idade.

Foi descoberta no "America´s Got Talent", julgo que em 2010, e de lá para cá tem espantado o mundo com as suas actuações.

Já fez duetos com Sarah Brighton, Celine Dion, Barbara Streisand, e outros, e é realmente uma voz espantosa, de arrepiar.

Descobri-a este fim de semana, e não consegui deixar de pensar a forma como canta, como nos comove e surpreende.

Aqui ficam alguns vídeos, só para quem como eu, anda distraído. 

 

http://www.youtube.com/watch?v=3d_XTvLalJk

 

http://www.youtube.com/watch?v=YUr39UrqNfc

 

http://www.youtube.com/watch?v=YUr39UrqNfc

 

http://www.youtube.com/watch?v=1qecULT01iE

 

http://www.youtube.com/watch?v=qIBRC40pz4I

publicado por Domingos Amaral às 14:52 | link do post | comentar
Sexta-feira, 18.10.13

Em Portugal toda a gente protesta...e ainda bem!

Muita gente tem a ideia que só a CGTP e os sindicatos de esquerda é que protestam.

No entanto, não é bem assim.

Qualquer ramo de actividade, quando é atingido nos seus interesses, protesta de imediato.

Não são só os funcionários públicos a protestar. Também as associações de reformados, recém formadas, protestam muito.

E os bancos? Nas últimas semanas, protestaram pelo menos 2 vezes, e bem.

A primeira foi contra uns certificados que o Governo vai lançar, e que para os bancos são concorrência "desleal".

E a segunda vez foi contra a subida do imposto extraordinário sobre a banca, que logo levantou um coro de protestos!

E a EDP, não protesta, contra os cortes nos subsídios? Sim, protesta.

Até os chineses que a compraram logo vieram protestar, enviando uma cartinha, e logo o defensor dos chineses, Eduardo Catroga, veio dizer que eles tinham razão. 

E a Galp, não a ouviram também a protestar?

E o ACP, não levantou a voz, dizendo que mais impostos sobre os carros a gasóleo era um erro?

E a associação dos restaurantes, não protesta contra a manutenção da taxa máxima do IVA? Sim, protesta e até ameaça com manifs.

Como se vê, não são só os do costume, os sindicatos da função pública, ou os trabalhadores das empresas públicas.

Esses vão fazer o que fazem sempre.

Mas, os outros também protestam e por vezes têm formas muito eficazes de levar a água ao seu moínho.

E quem achar que Portugal é irreformável só por causa disto, não percebe nem gosta das democracias modernas.

Nessas, todos se podem defender, e protestar é uma forma de defesa.

Seja os interessados "de direita", ou sejam os interessados "de esquerda", todos protestam e ainda bem, é sinal de que estão vivos. Só os mortos não protestam.

Qualquer ser vivo reage mal ao sacrifício e à dor, mesmo que seja apenas no seu bolso.  

Isto não quer dizer que certas medidas não sejam necessárias, mas pensar que todos devíamos ser carneirinhos mansos e submissos, e aceitar tudo com um sorriso nos lábios, é um instinto totalitário assustador.

Antes uma sociedade onde todos protestam e é difícil mudar, do que uma sociedade de mortos-vivos, subjugados por um poder totalitário.

Protestar é sinal de vida, e de democracia. E nisso não somos muito diferentes dos outros.

Não há nenhuma democracia ocidental onde não haja protestos quando alguém se sente prejudicado.

Contudo, há muitos que preferiam uma sociedade diferente, mansa e amorfa, que nunca protestasse.

É compreensível.

Debaixo de muitas pessoas que odeiam os protestos, há um ditadorzinho doméstico, um fanático do come e cala.

É o que há mais por aí, os ditadorzecos de sofá, que resolviam tudo em duas penadas...

publicado por Domingos Amaral às 09:56 | link do post | comentar | ver comentários (3)
Quarta-feira, 16.10.13

Desta vez, Portas e Passos estão nisto juntos, e enterrados até ao pescoço!

Desta vez, com o Orçamento para 2014, não há divisões na coligação.

Não há PSD para um lado, e CDS para o outro.

Desta vez, não há linhas "vermelhas", ou "se me perguntarem se eu concordei eu digo que não concordei".

Desta vez, não há Vítor Gaspar acima de Portas, como número 2 do Governo, uma coisa humilhante que causava mal estar.

Desta vez, não há nada disso.

Com a remodelação, Portas passou a número 2 e a todo poderoso da economia, e até negoceia com a troika.

E Pires de Lima, que fora do Governo era um crítico, dentro é apenas mais um dos seguidores.

Desta vez, Portas e Passos são uma entidade única, há um Governo unido, para o bem e para o mal. 

A margem de liberdade, ambígua mas inteligente, que Portas adquirira ao longo de dois anos, esfumou-se.

Portanto, o que devemos concluir é que este orçamento de 2014 é o primeiro em que há uma genuína união entre PSD e CDS, e que ambos o apoiam sem qualquer reserva.

E isso é que é estranho, pois este pode vir a ser o mais duro orçamento deste Governo.

Além disso, é um orçamento que demonstra, mais do que qualquer outro até agora, que o Governo não só não aprendeu com os erros, como entre a crença e a eficácia, escolhe sempre a crença.

Em primeiro lugar, o Governo devia aprender com os erros, económicos e constitucionais.

Em 2012, houve cortes profundos na despesa, quebra de salários e retirada de subsídios aos funcionários públicos.

Qual foi o resultado? Uma recessão muito profunda, muito desemprego, e muita perda de receita fiscal.

Além disso, o Tribunal Constitucional vetou a repetição dessas medidas em 2013.

Assim, o Governo mudou a estratégia, e para 2013 aumentou os impostos, sobretudo o IRS.

O que se verificou? A recessão foi bem menos grave que em 2012, e há claros "sinais positivos" de recuperação.

O que é que as pessoas inteligentes deviam deduzir destes resultados? Que a economia se adapta melhor à subida de impostos do que ao corte na despesa!

É essa a lição dos últimos 2 anos: cortar na despesa causa mais recessão do que subir os impostos!

E, ainda por cima, subir os impostos tem a vantagem de não ser uma estratégia inconstitucional!

Mas, aprendeu o Governo essa lição?

Nada disso. Para 2014 o Governo vai voltar a apostar num violentíssimo corte de despesa, repetindo o erro de 2012.

E, também no plano constitucional, faz novo braço de ferro com o TC, que já no passado por várias vezes avisou que os cortes salariais deviam ser transitórios...

Porque é que o Governo faz isto? Porque é que não aprende com os erros?

A única explicação para a persistência nesta estratégia de "corte brutal na despesa" não pode ser a "troika", pois a "troika" já permitiu várias soluções diferentes, desde 2011 até agora.

O que a "troika" impõe são as metas, não os caminhos para lá se chegar, esses foram variando, ano após ano.

A explicação é outra: é uma questão de crença fortíssima, quase de fé.

Há uma crença profunda entranhada no centro-direita português, tanto no PSD como no CDS.

Para a maioria das pessoas de direita, há uma trindade dogmática de crenças:

1- O peso do Estado tem de ser diminuído

2- Cortar na despesa é essencial

3- Qualquer subida de impostos é terrível.

Quando se acredita nisto como quem acredita na Santíssima Trindade, em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, as pessoas perdem alguma lucidez para ver a realidade que está à frente dos seus olhos.

O centro direita português quer transformar essa crença em realidade, sem ter percebido uma coisa essencial, que há muitas décadas muitos economistas perceberam: quando se está numa recessão, o comportamento das pessoas é diferente, e as soluções não funcionam da mesma maneira.

A "economia da recessão" é diferente da "economia da expansão" ou da "economia da estabilidade".

Soluções que funcionam num momento, são desastrosas noutro momento.

Por isso, as pessoas deviam deixar as suas crenças de lado, e tentar a melhor solução.

A economia não é uma questão de fé, mas sim de eficácia.

Portanto, se tudo falhar, como pode falhar, Portas e Passos desta vez vão morrer juntos, atrelados à sua crença quase religiosa que este é o único caminho.

Não é, mas tal como na religião, também na economia o fanatismo das crenças costuma cegar as pessoas.

publicado por Domingos Amaral às 12:37 | link do post | comentar | ver comentários (4)
 

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